Feito em casa – Parte II

Assim como “a natureza abomina o vácuo” (segundo Aristóteles), geeks abominam o desperdício. E eu me peguei olhando exatamente nos olhos do danado na semana passada. Estava copiando alguns arquivos para meu Mac Mini quando dei de cara com um alerta do OS X: “Você está ficando sem espaço em disco”. Caramba, lotei um HD de 80 GB sem nem sentir. Enquanto pensava no que poderia apagar ou gravar em DVD para liberar espaço, meus olhos pousaram sobre um canto da mesa, e o que vejo? Dois HDs IDE de 3.5 polegadas dando sopa: um de 40 GB e um de 80 GB.

O de 40 GB é o que sobrou do meu primeiro projeto de “armazenamento externo”, um case USB que montei há cerca de dois anos. O de 80 GB eu ganhei da minha namorada, e seria um “upgrade” do case se o dito não tivesse pifado há pouco tempo. A idéia de comprar dois cases novos para os discos não me agradava muito: eu ia gastar dinheiro, ocupar mais tomadas, mais portas USB e os discos estariam acessíveis apenas para um dos micros da casa, sendo que atualmente costumo ter duas ou três máquinas “em uso” a qualquer momento (as principais são meu Mac Mini, o Hackintosh da Elaine e meu EeePC).

Pensando no que fazer, me lembrei do PC debaixo da mesa, parado há anos, e retomei a idéia de montar um servidor de arquivos em rede (NAS) para a casa. O primeiro passo foi recolocar a máquina em condições de uso: limpei a poeira, por fora e por dentro, e removi placas que não iria usar: um sintonizador de TV, um “hardmodem” U.S. Robotics 56K e uma SoundBlaster Live! 5.1. Mantive o drive de CD, instalei os dois HDs e adicionei um pendrive de 256 MB a uma das portas na traseira da máquina. Não precisei fazer nenhum “upgrade” de hardware: os 256 MB de RAM e o processador Duron de 1.3 GHz são mais do que suficientes para a tarefa.

Com a máquina montada, era hora de escolher o sistema operacional e montar um “array”. A idéia era juntar os dois discos em um só “volume” de 120 GB (arranjo conhecido como JBOD – “Just a Bunch of Disks“) e disponibilizá-lo para todos os micros da rede. A coisa foi mais fácil do que eu pensava: bastou baixar uma ISO do FreeNAS, um “appliance” gratuito e Open Source baseado no Free BSD projetado exatamente para esta tarefa. O sistema roda de um Live-CD, e grava as configurações automaticamente no pendrive de 256 MB que mencionei anteriormente. Ele também pode rodar direto do pendrive (assim eu poderia eliminar o drive de CD da máquina), mas meu micro não gostou muito da idéia de dar boot via USB.

No primeiro “boot”, com monitor e teclado plugados ao PC, fiz a configuração básica: ativei uma interface de rede, atribuí um IP ao micro e pronto. Todo o resto pode ser feito através de uma interface web muito fácil de usar. Seguindo a (boa) documentação do FreeNAS adicionei os dois discos, configurei-os como um array JBOD e formatei o conjunto. Tudo sem digitar um único comando, só com alguns cliques do mouse. Mais alguns cliques e criei um compartilhamento SMB expondo todo o conteúdo do array para minha rede.

Literalmente, configurei tudo na metade do tempo que levei para limpar o micro, sem nenhuma dor-de-cabeça. A interface web me dá todas as informações que posso querer saber sobre a saúde do servidor: do uso de memória a gráficos de rede e desempenho. Se quiser garantia de integridade dos dados, posso trocar o JBOD por um array RAID de verdade, RAID 1 ou RAID 5. Não gosta de SMB? Compartilhe seus arquivos via NFS ou AFP. Precisa de acesso externo? Habilite FTP ou SSH, e use o cliente DynDNS embutido para não ter de lembrar o IP da máquina. Precisa definir permissões de acesso diferentes para diferentes usuários? Moleza. Você é um “control freak”? Peça relatórios completos sobre o servidor, por e-mail, a cada minuto, incluido logs do sistema.

As possibilidades do sistema são enormes, e ele pode ser adaptado para uma variedade imensa de usos. Dá até mesmo para fazer o ajuste fino de parâmetros como consumo de energia (coloque os discos para “dormir” depois de um tempo sem acesso para economizar), nível ruído dos discos (mais silenciosos, acesso mais lento) e muito mais.

Montei meu servidor há cerca de uma semana, e até agora não tive um soluço sequer. Nesse período, tive até mesmo uma queda de energia (por causa de um fusível partido no quadro de luz do apartamento) que interrompeu no meio do caminho uma cópia grande de arquivos do Mac para o servidor, uns 26 GB para ser exato. Assim que a energia voltou o servidor religou sozinho (um recurso da placa-mãe), o sistema entrou no ar automaticamente e em minutos pude continuar a cópia de onde tinha parado, sem perder um bit sequer.

Não dá pra recomendar o FreeNAS o bastante. Se você precisa compartilhar um certo espaço em disco com vários micros e quer fazer isso gastando o mínimo possível, ele é a melhor opção.

2 thoughts on “Feito em casa – Parte II

  1. Li seu artigo na Mac+ 026, sobre Hackintosh. Entrei no Mundo Mac em agosto do ano passado e desde então venho tentando colocar o Mac 10.5 em CPU Intel. Já fiz quatro tentativas frustradas.
    Podemos trocar idéias!

  2. Pingback: Criando um NAS barato e de forma simples | LinUser.Com

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