Quem me conhece sabe que me viro, até que razoavelmente bem, na cozinha. Não chego nem aos pés do meu pai, que faz verdadeiras obras-primas com uma panela na mão, mas vou bem além do trivial variado e de fome ou excesso de miojo eu não morro (nem ninguém ao meu redor). Tanto que, com gosto, sou o “cozinheiro oficial” de casa, cuidando do jantar pra Elaine e, agora, pro Gabriel.
Mas meu cardápio é limitado, eu não sou do tipo criativo (não na cozinha) e não tenho a habilidade de meu pai de dissecar um prato com apenas uma garfada e fazer igual depois. Preciso de receitas, e quanto mais detalhadas melhor. Não sou do tipo paciente, por exemplo: tendo a fazer múltiplas coisas ao mesmo tempo e queimar etapas, o que acaba atrapalhando o resultado final do prato.
Foi por isso que fiquei todo animado quando soube que a Nintendo resolveu lançar “Personal Trainer: Cooking” para o Nintendo DS no ocidente. O “software” (não é um jogo) é uma versão ocidentalizada de um “livro de receitas” eletrônico que saiu no Japão em 2006.
São ao total 254 receitas com níveis variados de complexidade. Você pode escolher o que cozinhar por país (infelizmente não há uma receitinha brasileira sequer), por ingredientes (ex: “todas as receitas que contenham carne”), por tempo de preparo, por valor calórico e mais. Achou a receita? o programa lista todos os ingredientes e os passos necessários para a preparação. Algum ingrediente está em falta? Basta “ticar” ele na lista para criar automaticamente uma lista de compras para a próxima vez que você for ao mercado. Tudo em ordem? É só começar a cozinhar.
As receitas são descritas passo a passo, e narradas em voz alta pelo “DS Chef”, um personagem animado no canto da tela. Você pode controlar a receita, avançando ou retrocedendo entre os passos, usando a tela de toque ou comandos de voz. Diga “Continue!” para avançar, “Last Step” para retroceder, “Show Timer” para marcar o tempo de cozimento. A velocidade da voz do chef pode ser controlada pelo usuário.
A sensibilidade do microfone é um pouco alta: em um ambiente barulhento, como a minha cozinha (com Gabriel, Elaine e minha sogra conversando) o chef entendia comandos que não existiam e insistia em avançar a receita. Mas pelo menos ele ignorou ruídos como o barulho de talheres, panelas e pratos sendo manuseados.
Para começar, escolhi uma receita japonesa bem simples: “Deep Fried Sardines”. Sim, sardinha frita. “Pô Rigues, tu não sabe fritar sardinha?”. Pois é, eu tenho uma boa idéia geral do processo, mas nunca tinha acertado a receita. Tentativas anteriores terminavam com a “casquinha” de farinha de rosca se soltando do peixe durante a fritura, ou eu errava o ponto e a pobre sardinha ficava parecendo um bloquinho de carvão (sem falar na gordura espirrada por todo o fogão). Um desastre.
Mas com o Personal Trainer Cooking… eu acertei! A receita é incrivelmente detalhada. Um dos passos dizia: “Transforme as sardinhas inteiras em filés”. Parei e pensei: “caramba, como diabos se faz isso?”. Perguntei pro DS: “More Details!”. E ele me mostrou um vídeo, em tela cheia, explicando tudo passo a passo. A todo momento, dizer “More Details” trazia mais dicas úteis: como saber se o óleo estava na temperatura certa, como fazer a cobertura grudar no peixe, toques na hora de temperar.
Tudo muito fácil de seguir, com uma interface muito simpática. Em nenhum momento o “DS Chef” me irritou tentando dar uma de sabichão, como faria o “clippy” no Word. A narração é muito natural, sem aquela voz “robotizada” típica de um sintetizador. Tudo isso ocupa espaço, claro: Personal Trainer: Cooking é um “jogo” de 2 Gigabits, o maior já lançado para o DS.
Depois que você termina o prato o “chef” lhe cumprimenta, com direito a aplausos, e você pode marcar a receita no calendário, adicionar notas pessoais e indicá-la como favorita. Assim, você pode acompanhar seu progresso como cozinheiro dia-a-dia, o que ajuda na motivação.
Acho que a única coisa que eu gostaria que o programa tivesse é a capacidade de baixar novas receitas via Wi-Fi Connection: uma versão para o DSi poderia implementar esse recurso. A versão européia tem narração em 5 idiomas (Inglês, Francês, Alemão, Espanhol e Italiano), mas o português infelizmente ficou de fora, o que é uma pena. Também é necessário se acostumar com as medidas: tudo é indicado em “xícaras”, “colheres de chá” ou de sopa, com proporções meio estranhas, como “uma colher e um terço de shoyu”. Mas a maioria dos kits de medida pra cozinha hoje encontrados em qualquer lojinha de utensílios domésticos ajuda na conversão, com marcações para transformar xícaras em mililitros e afins.
Se você tem um Nintendo DS e gosta de cozinhar, não importa seu nível de habilidade, compre este título. Você não vai se arrepender.
Pô meu 😛 qualquer cozinheiro que se preza usa as unidades de medidas básicas da cozinha: colher, xicara, copo, pitada, fio, “a gosto” e por ai vai hehehe.
p.s. e batata? sabe fritar e deixar ela crocante? 🙂