Pouco mais de quatro anos atrás, durante um raro período de férias, decidi tocar um projeto: criar minha própria máquina de arcade, recheada com os meus jogos favoritos. Comprei o hardware e fiz algumas experiências, mas no final de contas acabei mudando de idéia no meio do caminho, e o que seria um arcade virou um Media Center que, após algumas iterações e upgrades de hardware, está em uso até hoje.
Minha primeira experiência com o Arcade
Mas a idéia do “arcade” não morreu: na verdade ela vem “fermentando” ao longo dos anos, e por restrições de orçamento e espaço se transformou em um console. E nesse tempo avanços no hardware e software tornaram possível fazer algo do jeito que sonhei: uma máquina com o tamanho e o comportamento de um videogame. Nada de intermináveis listas de ROMs que tem que ser navegadas com teclado, quero uma interface organizada (de preferência automaticamente) e bonita, controlada apenas com um gamepad, em uma máquina que não destoe dos outros componentes do meu rack e, melhor, não soe como um helicóptero decolando quando ligada.
Em julho me dei de presente um Raspberry Pi, que é uma maquininha realmente formidável: em uma plaquinha do tamanho de um cartão de crédito você tem o que é basicamente um computador completo, com um processador ARM de 700 MHz, 512 MB de RAM, duas portas USB, uma porta Ethernet, saída HDMI e um slot para cartões SD. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para emular consoles clássicos com sobra. E o melhor: não tem uma ventoinha sequer para fazer barulho, não consome quase nada de energia (é alimentado com um carregador de celular) e cabe em qualquer lugar.
Depois de um mês fuçando aqui e ali, experimentando emuladores e editando dezenas de arquivos de configuração, meu “console” está em um estado apresentável. O hardware consiste em nada mais que o Raspberry Pi e um joystick USB da Clone, uma cópia do DualShock 2 da Sony. O software é baseado no RetroPie, que engloba a distribuição Linux Raspbian (derivada do Debian), a excelente interface gráfica EmulationStation, um conjunto de emuladores (entre eles o projeto RetroArch) e alguns utilitários para configurar e “amarrar” tudo isso.
Para começar a usar o RetroPie basta gravar o sistema em um cartão SD, copiar algumas ROMs e ligar o Raspberry Pi. Mas para deixar tudo realmente “bom” você vai perder um tempinho acertando a resolução da tela, escolhendo filtros de imagens para os emuladores, configurando os joysticks, suprimindo mensagens de boot, etc. Fiz várias anotações durante o processo, que compartilho neste caderno no Evernote. Espero que sejam úteis.
Meu “console” é temático, emulando meus sistemas favoritos da Sega: Master System, Mega Drive e Mega CD. Em todos os casos a emulação é excelente. Originalmente pensei em emular também o 32X, mas a emulação é lenta demais. Como só três ou quatro jogos dele me interessam, não é uma perda tão grande.
Experimentei também o emulador de Gameboy Advance, que roda muito bem mas sem os filtros de imagem dos outros, e por isso o deixei de fora. O mesmo vale para os jogos de arcade da Capcom baseados nas placas CPS e CPS-II, como Cadillacs & Dinossaurs, Alien vs. Predator ou Street Fighter II: há duas opções de emuladores, um que roda bem mas não fica “bonito”, e outro que fica “bonito” mas é lento. Talvez eu adicione ao meu console o suporte ao NES. Já o SNES não me interessa muito (e pelo que ouvi é outro sistema onde os resultados não são 100%).
A TV é o único lugar para um clássico como esse
O próximo passo é passar do “bom” para o “excelente”: quero colocar o Raspberry Pi em um gabinete com cara de console, e usar os controles de sistemas clássicos nele. Há esquemas de interfaces bem simples para joysticks de Mega Drive e Saturno neste site, montei ambas mas não obtive bons resultados: a de Mega Drive só funciona com o controle no modo três botões, a do Saturno sequer funcionou. Talvez eu acabe apelando para versões USB dos controles originais, como este da Retrolink.
Não sei se vou chegar a terminar o console, mas espero que isso não leve mais quatro anos. Até lá, preciso pensar em um nome: como é um “console da SEGA” pensei em seguir a tradição da empresa em usar nomes de corpos celestes e batizá-lo de Mimas. É uma lua de Saturno (outro console da Sega) que se parece com a Estrela da Morte (sério!) e o nome me lembra “mimetismo“, a capacidade que um organismo tem de imitar a aparência ou comportamento de outro. O que acham?
PS: O link curto para o caderno no Evernote foi bloqueado pelo Google, sabe-se lá porque. Substituí pelo link “longo”, que deve funcionar. Agradeço ao amigo Cauê Fabiano por avisar!
Como você configurou o DualShock 2 no Raspberry? Eu estou querendo fazer o mesmo, mas utilizando dois controles de PS2 em um adaptador USB.
Renan, eu não configurei um DualShock 2. Eu usei um clone USB dele, desses que você encontra em qualquer lojinha de informática.
Saquei, comprei dois controles USB de Super Nintendo pra montar o meu… Imagino que o driver seja semelhante…
Ótimo texto e bela aventura! Só que o link do caderno do Evernote foi desativado pelo Google. ):
Ué, que estranho! Testei aqui numa aba anônima do Chrome, e funcionou.
Ih, verdade, deu erro no Safari. Vou colocar o link longo. Valeu por avisar!